8 fevereiro, 2019
Todos nós acompanhamos com profunda tristeza e indignação a tragédia ocorrida com o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho no mês passado. As perdas pessoais, os sonhos destruídos e as terríveis consequências imediatas e de longo prazo para famílias, amigos e meio ambiente são terríveis e difíceis de mensurar, mas outros custos se apresentam de forma imediata e abrupta, principalmente para a Vale e seus executivos e acionistas.
Num primeiro momento as ações da empresa despencaram mais de 20%, fazendo a empresa perder dezenas de bilhões de Reais em seu valor de mercado. Estas perdas são o reflexo da punição imediata de investidores aos fatos ocorridos, em especial por se mostrarem reincidentes após o terrível acidente de Mariana em 2015. Logo após esta queda monumental houve uma recuperação no valor das ações da empresa, e agora percebe-se claramente que há uma enorme volatilidade dos ativos, com subidas e descidas abruptas a cada nova notícia ou especulação.
Para mim é doloroso e nada surpreendente que bancos, fundos de investimento e investidores profissionais insistam em especular com uma ação carregada de tantos fatos amargos e desesperadores. Em um mundo mais justo e mais responsável seria de esperar que a grande maioria dos investidores não quisessem sujar suas mãos com um dinheiro que parece ser ganho às custas do meio ambiente, de vidas de trabalhadores e da destruição de comunidades inteiras de pessoas inocentes. Claramente esta não é a resposta que presenciamos agora!
Transfiro esta mesma avaliação para o nosso dia-a-dia como consumidores de produtos e serviços turísticos: quantos de nós deixamos de comprar e nos relacionar com empresas que demonstram falta de ética e descuido com o meio ambiente, com as pessoas ou com o bem-estar geral da sociedade? Qual nosso nível de preocupação em recompensar os negócios “éticos” e punir com o descaso aqueles que não fazem bem ao mundo que vivemos? Como pesquisamos e decidimos nossa preferência por hotéis, companhias aéreas e prestadores de serviços terrestres? Qual nosso nível de conhecimento e suporte de empresas que apresentam excelentes práticas sustentáveis?
Em algum momento seremos cobrados, direta ou indiretamente, por estas escolhas que fazemos ou que deixamos de exercer, mas precisamos entender que o melhor mecanismo de mudança e pressão para transformar o mundo passa por ações cotidianas dentro de nossas casas, com a adoção de hábitos responsáveis e por ensinar o aspecto ético de nossas escolhas aos nossos filhos. Tão importante quanto olhar a dor da tragédia, entender suas causas e cobrar veementemente para que jamais acontecem novamente é adotar essa postura preventiva em nossas escolhas diárias, seja dentro do supermercado, no quarto do hotel ou na hora de investir nossas economias. Se não agirmos, continuaremos espectadores e cúmplices indiretos das coisas erradas que insistem em castigar-nos. Já não passou da hora de mudar isso?